Muita gente pode dizer: “O Brasil tem coisas mais importantes com que se preocupar”. Pode ser. Mas isso não desmerece a decisão acertada da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados em proibir o uso de estrangeirismos no país. Aprovada ontem (13/12/07), a matéria segue para votação final no plenário da Câmara.
Nada contra o inglês. Muito pelo contrário; adoro a língua de Sir Elton John, Mick Jagger e Paul McCartney, alguns de meus ídolos musicais. Mas peralá, já estão abusando faz tempo.
Não bastam fast food, delivery, self service, reality show, MP3 player, emitivi (como já cantou Rita Lee...). Agora também tem os verbos oriundos da informática: printar, layoutar, backupear e outros. É curioso que, enquanto escrevo este texto, no Word, vão aparecendo aquelas marcas vermelhas abaixo das palavras estrangeiras, como se me pedissem: “escreva em português!!!”
E a música, o que tem a ver com isso? Tudo. Das multinacionais não dá para esperar muita coisa. Mas por que cargas d'água a Indie tem que ser Records? Aliás, por que a Indie tem que ser indie? Por que a Luar, do brasileiríssimo Raul Gil, tem que ser Music? E a Deck, precisava ser Disc?
É claro que o nome não determina a competência de ninguém, mas a valorização da língua portuguesa deveria estar no sangue do brasileiro. Se fosse assim, não precisaria nem existir uma lei para impor regras sobre o assunto.
Artista mais popular do Brasil, ao lado de Ivete Sangalo, Zeca Pagodinho deu o exemplo ao criar o selo Zeca PagoDiscos, que é distribuído pela EMI. O primeiro produto dessa parceria foi o CD/DVD “Cidade de Samba”, lançado recentemente, com releituras de clássicos do samba e da MPB realizadas em duetos. Um parênteses neste assunto: foi bola fora lançar a versão em CD com cinco músicas a menos, o que deixou ausente o encontro de Almir Guineto e Dorina, em “Mel na Boca” (lindíssimo samba dolente de Guineto), e a inusitada dobradinha de Walter Alfaiate (grande sambista esquecido pela mídia) com Negra Li, em “Jura”. Mas tem nada, não. São coisas do mercado. No quesito brasilidade, Zeca tem milhagens para dar uma volta ao mundo. E marketing à parte, foi ele que mudou o nome da happy hour para Zeca Hora! (risos)
Anteriormente, Maria Bethânia, Flávio Venturini e Leo Gandelman seguiram caminhos semelhantes, com seus selos Quitanda, Trilhos.Arte e Saxsamba, respectivamente. Méritos também para as gravadoras tupiniquins que não se renderam ao estrangeirismo: Trama, Som Livre, Biscoito Fino, Rob Digital, Fina Flor e outras.
Para encerrar nosso primeiro post... ops, quer dizer, nossa primeira postagem, proponho um brinde à Língua Portuguesa, regado a guaraná da Amazônia. Como trilha sonora, deixo duas canções: “Querelas do Brasil” (Maurício Tapajós e Aldir Blanc, na voz de Elis Regina) e “Samba do Approach” (Zeca Baleiro, em dueto com Zeca Pagodinho).
Procure as letras no Google, leia e reflita.
5 comentários:
EEEEE ! My Friend de volta a ativa?? Ops, sejamos brasileiros: Meu amigo de volta a ativa!! rs!! Poxa , demoro!! Abraçãoo!! Este mes te mando meu cd.. to esperando chegar... Dá uma moral ae hein!
A Terra do Tio Sam (engraçado que era para ser Uncle Sam, não é mesmo?), por ser uma nação detentora de grande poderio econômico, artístico, bélico, entre outros, tornou-se potência com grande supremacia sobre as demais e isto fez com que um mimetismo desenfreado acometesse os países com alguma dependência dos United States (Estados Unidos). E um desses grandes imitadores é a nossa Terra de Pindorama. Existe uma ressalva oportuna ao caso do querido Belchior quando ele diz na inesquecível Coração selvagem, referindo-se ao tratamento amoroso "meu bem" quando canta numa das frases da música, dizendo "que outros cantores chamam Baby!"
A língua portuguesa é tida como uma das mais difíceis do mundo. Será esse um dos fatores que levam os brasileiros a utilizarem tanto o vernáculo importado dos americanos do norte? Ou a propaganda massificada pela mídia falada, escrita e televisada ocupa a vilania nesta questão?
Vejam vocês que até a lei brasileira, em se aprovando a mencionada legislação contra o estrangeirismo lingüístico, terá que se reciclar, pois algo de suma importância na questão processual defendido pela Constituição é o devido processo legal, tratado à exaustão pela Justiça daqui como Due Process of Law. E agora, José?, como diria o brasileiríssimo Carlos Drummond de Andrade.
Caro Bin Brother...
Se nao fosse a contaminacao linguistica não teriamos o BLOG ! E nem o LINK que voce tão gentilmente me passou !
Mas já que é pra contaminar, porque não o Frances ou qui sá o Espanhol não é mano ? Como diria nosso ilustrissimo Roger (que não é Rogerio) Rocha Moreira: Japa é joia !
Abraços,
Samuel
Meu caro Samuca. Acho que a gente não pode ser radical ou fanático em nada. Mas tb não pode aceitar abusos. O que pretendi levantar neste artigo foi a falta de amor do brasileiro, de forma geral, à própria língua. Em Portugal, mouse é rato. Aqui, liquidação é sale. Isso já é demais. Voltando à não-radicalização, na informática realmente é difícil traduzir algumas palavras. Como seriam, em português, hardware e software? E qual é a tradução de "blog", se é que existe? A solução é o bom senso, mas nem isso existe no Brasil.
Ah, como gostaria que isso realmente acontecesse...
Mas como quase tudo no Brasil, inclusive os lindos princípios e objetivos da nossa Lei Maior -Constituição Federal- mesmo que esta lei seja aprovada, ela não será cumprida na prática. Nenhuma lei será suficiente para conter a falta de bom senso nem para colocar nacionalismo no coração dos nossos queridos brasileiros.
Mas acho que vale tentar... Aprovo esta lei!
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