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segunda-feira, 10 de março de 2008

Reedição de O Canto da Cidade traz Daniela Mercury no auge criativo

CRÍTICA DE CD/DVD


● Disco: O Canto da Cidade – 15 Anos
● Artista: Daniela Mercury
● Gravadora: Sony-BMG




No último reveillon, entre um abraço e outro nos amigos, ouvi Daniela Mercury interpretar O Canto da Cidade, música de 1992, no programa Show da Virada. Pensei: “Eis um exemplo de uma grande artista que ainda está presa ao passado”.

Ao escutar o CD homônimo, que é relançado agora, em versão remasterizada, pouco mais de 15 anos depois do original, vejo que aquele sentimento não era apenas uma sensação, e sim uma constatação.

O Canto da Cidade, o disco, é um dos melhores trabalhos na linha popular lançados nas últimas décadas no Brasil. Com sua voz marcante, a irreverência baiana e a influência dos mestres da MPB, Daniela Mercury criou um samba-reggae mais encorpado, que não apenas unia esses dois gêneros musicais, mas também trazia boas doses de pop e rock.

Que atirem a primeira pedra os puristas, mas na minha opinião a interpretação de Daniela Mercury para Você Não Entende Nada, de Caetano Veloso, é definitiva. Só pra Te Mostrar, dueto com o paralama Herbert Vianna, é um pop-rock de primeira linhagem. E até mesmo as percussivas O Canto da Cidade, Batuque e O Mais Belo dos Belos são oásis em meio à maior parte do que se produzia na chamada axé music da época. E ainda hoje é assim.

O problema é que Daniela se perdeu ao começar a investir na música eletrônica, após o também ótimo Feijão com Arroz, de 1996. Tentou fugir do estigma da axé music, mas não encontrou boas músicas, próprias ou de terceiros, que justificassem a fuga. Tanto é que o melhor de sua carreira está muito bem resumido na excelente coletânea Swing Tropical, da Som Livre, que traz essencialmente faixas retiradas dos CDs O Canto da Cidade e Feijão com Arroz. É um bom disco, com boas músicas, a maior parte delas no estilo samba-reggae.

Essa nova versão do CD acompanha um DVD com um show de Daniela Mercury na Praça da Apoteose, no Rio, em 1992. Curioso, ao ver a multidão que lotava o Sambódromo para assistir a uma cantora em início de carreira, é perceber que Daniela, desde aquela época, já carregava consigo o paradoxo de não depender tanto de vasto repertório para ser uma grande artista. Afinal, mesmo sem emplacar um hit do naipe de O Canto da Cidade há alguns anos, ela nunca perdeu o status de musa.

Com um set list irregular, que incluía as deslocadas Há Tempos (Legião Urbana) e Maluco Beleza (Raul Seixas), Daniela Mercury levantou a multidão, ajudada em muito por sua performance teatral, adquirida nos tempos de bailarina.

Mais interessante que o show são as gravações feitas para um especial da Rede Globo, em que Daniela faz duetos ao vivo com Tom Jobim (Águas de Março) e Herbert Vianna (Só pra Te Mostrar). Já Caetano Veloso ataca de ator no clipe de Você Não Entende Nada.

No final das contas, pela importância e qualidade, o CD inverte a lógica do mercado e torna-se mais relevante que as imagens do DVD. Quem sabe não esteja no velho disquinho digital a receita para Daniela Mercury reencontrar a essência de sua música.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Eles ainda seguram o Tchan

Esta poderia ter saído no Acredite se Quiser, mas está no Orkut, mesmo. Existe uma comunidade que exalta a nova formação do grupo É o Tchan, chamada É o Tchan de cara nova. Mais incrível ainda é saber que tem quase 3 mil guerreiros inscritos lá.

Para quem, como eu, pensava que o Tchan já tivesse ralado é peito, cantado pra subir, a comunidade nos apresenta a nova dupla de vocalistas, que ocupa o lugar honroso já ocupado pelos célebres Cumpadi Washington e Beto Jamaica (onde eles estariam hoje?).

Legal é ver a minibiografia deles. Um dos novos cantores é Johnny, que fez parte de três grupos: Cafuné, Swingueira do Bicho e Os Marotos. Seu colega é Jack, ex-Digalera. Não fui apresentado a nenhuma das quatro bandas. Prazer. Ah, é importante dizer que Johnny e Jack são “dois gogós de ouro”, na descrição do autor da comunidade.

Lá também tem o link para o site do É o Tchan, que parece ter sido criado por um desses fãs remanescentes. É o melhor retrato da decadência da banda.

Tudo bem que o Orkut seja um espaço democrático e que gosto não se discuta. Mas até os antigos fãs do grupo, que o ajudaram a vender milhões de cópias, sabem que não dá mais para segurar o Tchan. Passou, já foi. É como diz o velho ditado: insistir no erro.... Você sabe.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Falta repertório para Claudia Leitte ser uma nova Ivete Sangalo

Capa da revista “Vip” de janeiro, onde exibe suas generosas curvas, Claudia Leitte tá podendo. Às vésperas do carnaval, a cantora de axé divide-se entre os preparativos para a folia em Salvador e os programas de auditório de quase todos os canais.

Nessa queda de braço entre Gugus e Faustões, a Globo levou a melhor. Ontem, o “Domingão do Faustão” orgulhava-se de exibir a última apresentação do Babado Novo na TV com essa formação. No dia 17 de fevereiro, Claudia Leitte grava CD e DVD ao vivo na Praia de Copacabana, com os quais iniciará oficialmente a carreira solo.

A saída de Claudia Leitte do Babado Novo foi um caminho natural. Ela sempre teve destaque muito maior que os demais músicos, numa relação desigual e até injusta, por se tratar de um grupo. Aliás, este descompasso entre a exposição exagerada dos cantores e o ostracismo dos instrumentistas é uma característica peculiar das bandas de axé. Foi, certamente, um dos motivos que levaram Ivete Sangalo a partir para a carreira solo, que se tornaria muito mais brilhante que a dos tempos de Banda Eva.

É óbvio que Claudia Leitte tem Ivete Sangalo como um espelho e busca dividir com ela o posto de musa nacional. O que, diga-se, não é novidade. Em 2004, o Universo Musical publicou uma matéria de Neilton Silva, especialista em axé music, sobre o primeiro DVD do Babado Novo, na qual ele lembrava que, no início da carreira, Claudinha era comparada a Ivete até mesmo no timbre de voz.

O tempo passou e Claudia Leitte ganhou personalidade. Mas o fato de iniciar a carreira solo gravando CD e DVD num ponto turístico do Rio famoso mundialmente, da mesma forma que Ivete fizera com “Ao Vivo no Maracanã”, comprova que ela continua seguindo os passos da rival.

Assim como Ivete Sangalo, Claudia Leitte é talentosa, bonita, simpática, carismática e boa cantora. Mas existe um fator que, pelo menos até o momento, deixa a primeira a quilômetros à frente da segunda: repertório.

Ivete, quando começou a carreira solo, tinha uma base sólida formada por canções boas e de grande sucesso gravadas com a Banda Eva. Tanto que seu primeiro DVD solo, “MTV Ao Vivo”, trazia várias músicas do grupo, embora ela já colecionasse, sozinha, mega-hits do quilate de “Sorte Grande” e “Festa”. O rico passado também foi lembrado em “Ao Vivo no Maracanã”, DVD mais vendido até hoje no Brasil.

Claudia Leitte, por sua vez, sofre com o repertório irregular do Babado Novo. Com apenas quatro CDs no currículo, o grupo não possui tantos sucessos, e os que tem, à exceção da boa “Eu Fico”, não são nenhuma Brastemp. Canções como “Safado, Cachorro, Sem-Vergonha”, “Bola de Sabão” e “Insolação do Coração” agitam o público nos shows, como pôde-se ver recentemente no Festival de Verão de Salvador, mas, musicalmente, estão muito aquém de “Arerê”, “Alô Paixão”, “Beleza Rara” e outras tantas pérolas da Banda Eva.

Outra deficiência do Babado Novo, que Claudia Leitte pode explorar na carreira solo, são as baladas. O grupo não possui no repertório boas canções de amor, normalmente bem aceitas por emissoras de rádios de diferentes estilos.

Claudia Leitte não compõe tão bem quanto Ivete, mas isso pode ser aprimorado com o tempo e resolvido, a curto prazo, com a ajuda de bons compositores, o que não falta na música baiana. Se parar de fazer tantas releituras, como a infeliz versão do Babado Novo para “Dyer Maker”, do Led Zeppelin, e tiver competência na escolha do repertório, Claudia Leitte tem tudo para brilhar ainda mais em carreira solo. Talvez não supere a rival, pelo conjunto de boas canções que Ivete compôs ou interpretou, sozinha e na Banda Eva. Mas, pelo menos, talento para tentar não falta.