Ótima notícia ao abrir o jornal hoje, ou melhor, ao acessar a internet: Tropa de Elite conquistou o Urso de Ouro no Festival de Berlim. Isso depois de ter sido exibido com legendas em alemão, quando o normal é em inglês, e de ser acusado de fascista por um conceituado crítico americano.
É claro que, a esta hora, ninguém está mais feliz que o diretor José Padilha, os atores e a equipe técnica. Mas nós, fãs de Tropa, também nos sentimos parte desta festa. É como se fosse uma doce vingança a todos que, por hipocrisia ou vontade de aparecer, acusaram o filme disso e daquilo. E também ao Ministério da Cultura (Minc), que não o indicou como representante brasileiro na briga pelo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Preferiram o politicamente correto “O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias”, e o resultado foi que nem chegamos entre os finalistas.
Nunca fui muito fã de cinema nacional; admito até que tinha um certo preconceito. Mas quando saí do cinema, depois de ver Tropa de Elite – sim, eu não havia assistido à cópia pirata – fiquei com uma sensação de “uau” que só sentira antes ao ver Matrix.
Comparo Tropa a Matrix não pela história, muito menos pelos efeitos tecnológicos, mas sim pela importância. Assim como Neo e cia. dividiram a história recente de Hollywood, o cinema nacional será classificado antes e depois de Capitão Nascimento e seus aspiras.
Tropa de Elite tem todos os elementos de um grande filme: ação, humor, drama e, principalmente, ótimos personagens e interpretações magníficas. Chamá-lo de fascista é, no mínimo, má-vontade. José Padilha simplesmente relata uma realidade a partir de um ponto de vista, o de um policial. O julgamento de valor cabe a quem vê.
Tão errado quanto é dizer que as cenas de violência são gratuitas. Mais do que retratar o cotidiano, as imagens fazem parte da trama, a complementam, a explicam. Sem elas, o impacto que a história causa no espectador certamente não seria o mesmo.
Gostar ou não de Tropa de Elite faz parte da própria essência do filme, assim como acatar ou recusar as convicções do personagem de Wagner Moura. O que não dá para aceitar são comentários parciais feitos por quem prefere se esquivar do fato de que a triste realidade do Rio e do Brasil está relacionada diretamente ao tráfico e ao consumo de drogas.
Da mesma forma, é inaceitável a decisão do Minc de fechar olhos e ouvidos para a enorme repercussão de Tropa de Elite e não tê-lo incluído na lista de filmes brasileiros que tentariam uma vaga na final do Oscar. Como dificilmente o Brasil produzirá tão cedo um filme desse porte – não por falta de competência, mas por méritos de Tropa – ainda será possível incluí-lo em 2009. Tomara que seja mais um dos efeitos positivos deste Urso de Ouro.
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