Sexta-feira, um amigo me passou o link para a notícia do processo que Preta Gil moverá contra o Google. Para quem não sabe: ao digitar as palavras “atriz” e “gorda” no Google Imagens, o site recomenda que a pessoa pesquise também a expressão “Preta Gil”.
Num primeiro momento, minha reação foi rir, não dela, mas da situação esdrúxula. Um pouco depois, nem disso mais achava graça.
O Google é responsável, sim, mas não tem culpa. É como se fosse um homicídio culposo, sem intenção de matar. Os resultados das buscas, a maior ou menor relevância dos sites ou palavras indicados, são fruto de um algoritmo próprio do Google. Traduzindo, é tudo automático.
Na maior parte das vezes, o resultado agrada o usuário, que encontra rapidamente o que procura. Essa eficiência dá ao site criado por Larry Page e Sergey Brin quase o monopólio mundial dos mecanismos de busca. Não é à toa que a Microsoft está oferecendo milhões de dólares ao Yahoo na tentativa de criar um concorrente à altura do Google.
Mas o caso Preta Gil nos lembra que nem sempre a automatização funciona. Apesar dos efeitos negativos para a imagem e a auto-estima da filha do ministro, tudo isso é bom para revelar que existe um lado negro da força, e ele pode ser perigoso.
Não dá pra delegar poderes totais de decisão a uma máquina e ficar deitado em berço esplêndido imaginando que tudo sempre dará certo. Em algum momento pode haver uma conseqüência desastrosa. Já assistiu ao filme Candidato Aloprado, com Robin Williams? É uma obra de ficção, mas nos faz refletir da mesma forma. Quem sabe não esteja na hora de fazer alguns ajustes nesses algoritmos tão geniais, tirar a mão do bolso e contratar mais seres humanos para interagir com os robozinhos?
Mas, infelizmente, também não dá para esperar muito das pessoas. Não estou falando dos possíveis profissionais que o Google deveria contratar, pois a obrigação deles seria cuidar da imagem da empresa.
Ontem, no blog do Ancelmo Góis, no Globo Online, havia mais de 200 comentários para a notícia. Comecei a ler as mais recentes, mas parei por indignação. Havia todo tipo de ofensa e declaração preconceituosa contra Preta Gil, como se ela não tivesse sentimentos ou estivesse usando aquela situação deplorável para se aproveitar.
É a famosa e detestável síndrome de teoria da conspiração do brasileiro. A mesma que produz absurdos do tipo “o Brasil entregou a Copa de 1998 para a França porque queria sediar os jogos” e “os atentados de 11 de setembro foram planejados por George Bush para poder atacar o Iraque”.
Isso é preocupante. Parece que hoje, além de assistirmos quase indefesos às atrocidades que os poderosos – grandes empresas, políticos, nações – cometem contra nós, temos que aceitar que supostas estratégias de marketing estão acima de nossas crenças e até mesmo complexos.
Não pode ser assim. Até que me provem o contrário, prefiro acreditar que dinheiro nenhum compra a paz interior. Por isso, Preta Gil, vá à luta. Pegue seu sabre de luz e combata todos os Darth Vaders que encontrar pela frente. A força está com você.
Um comentário:
se vc digitar "acidentes automobilisticos" o google vai dizer "tente mulheres ao volante".
essas coisas me dão sono.
Postar um comentário