terça-feira, 8 de janeiro de 2008

BBB8: mais do mesmo

Hoje começa mais um triste capítulo da história da televisão brasileira: uma nova edição do “Big Brother Brasil”.

Sabe aquele papo de “não vi e não gostei”? É por aí. Mas não é má-vontade. Juro, tentei assistir às edições anteriores, mas a minha paciência não me permitiu passar mais de cinco minutos no mesmo canal. A mão, nervosa, implora o controle remoto e o dedo indicador, como se tivesse vida própria, aperta o primeiro botão que encontra.

Se o programa se restringisse ao horário posterior à novela das oito (ou nove), bastaria não ver. Mas tem os flashes durante a programação da Globo, os comentários em outros canais – que você acaba assistindo, mesmo de relance, no zapping – as conversas de botequim, as capas de jornais e revistas... Enfim, é quase impossível passar despercebido. Tá na boca do povo.

Mas popularidade nem sempre é sinônimo de qualidade. Quantas bandas de axé e pagode venderam milhões de cópias nos anos 90 e hoje são ignoradas? No caso do BBB, a insistência encontra respaldo na audiência. Entretanto, os erros se repetem a cada ano.

Por mais que o diretor Boninho diga, como fez em entrevista ao “Globo Online”, que a linguagem se renova e que não falte gás mesmo depois de 8 anos, o BBB é extremamente previsível. A maioria dos participantes resume-se a muito corpo e pouca mente. Um típico retrato do programa, que se arrasta por meses sem apresentar qualquer conteúdo.

Aliás, este é o maior problema de programas como “Big Brother”, “TV Fama”, “Superpop”, “Vídeo Show” e tantos outros: a futilidade. Não que se espere deste tipo de atração uma aula de cultura. Mas quem disse que entretenimento e informação – no sentido educativo da palavra – não podem andar juntos? Está aí “A Grande Família”, há sete anos no ar, provando que é possível divertir com inteligência.

Esta oitava edição do BBB, antes de ir ao ar, já revela outro problema do país, não só na TV: a concentração da produção cultural em ou para São Paulo. Seis dos 14 participantes (quase 43%) são paulistas, sendo que o último convidado parece ter entrado na marra. Primeiro, um goiano saiu por motivo de doença. Seu substituto, de Limeira (SP), também deixou o programa antes do início e foi trocado por outro de uma cidade próxima, Campinas. Enquanto isso, não há representantes da Região Norte e apenas um é da Região Sul, maior exportadora de modelos do país. Isso porque, segundo Boninho, beleza, no BBB, é fundamental.

O fato de São Paulo possuir o monopólio do ibope (vale lembrar que audiência é medida em tempo real na capital paulista) impõe à TV brasileira quase uma ditadura estética. Digo “estética” na definição mais ampla possível da palavra: forma física, sotaque, roupas, costumes, idéias... Programas esportivos como o “Terceiro Tempo”, da Record, e jornalísticos, como o “Brasil Urgente”, da Band, comprovam esse bairrismo. Com o BBB não foi diferente – das sete edições anteriores, três foram vencidas por paulistas – e, ao que parece, não será.

Mas a obviedade do “Big Brother”, que fará a oitava edição ser igual a todas as outras, está em sua própria essência. Transcende regiões do Brasil e o próprio país. É a egolatria de seus participantes, criadores ou vítimas – você decide – de uma sociedade narcisista, que encontra na televisão um espelho do que é, do que quer ser ou do que querem que seja.

O BBB é mais um produto da era da câmera digital. Os brothers vivem em seu You Tube particular, no Projac. Alimentam o sonho deles e de milhões de pessoas que os “acessam” de se tornarem ricos e famosos sem muito esforço, num circo e num círculo viciosos.

É engraçado que o “Big Brother” seja transmitido nesta época do ano, quando as principais atrações da Rede Globo estão de férias e as reprises dominam a programação. O BBB8, então, seria uma novidade em meio às repetições. Mas não é. O que se vê, como diz a música da Legião Urbana, é mais do mesmo. O pior de tudo é saber a resposta do “povão” à pergunta de Renato Russo no refrão: “Não era isso que você queria ouvir?” Plim, plim.

Um comentário:

Anônimo disse...

O Big Brother é um achado televisivo. Os inventores, no exterior, já descobriram isso e, nós, como bons "discípulos" que somos, também. As pessoas gastam horas a fio acessando a internet pra "espiar" mais um pouco daquilo que a tv aberta já mostra. Sim, porque o que a Globo mostra já é uma completa saturação, como diria alguém com boas maneiras. Rsrs.

A audiência, nesse horário, é garantida. A curiosidade humana é tamanha que, se possível fosse, muitos passariam dias a fio ligados nos episódios do dia-a-dia dos brotheres. E quem ganha com isso é a própria Globo, com seu horário de publicidade valorizado ao máximo. Isso, sem contar as ligações 0300...

Mas, além de corpos bonitos e rostos desconhecidos até então, o que mais atrai a atenção do público e mídia a esse tipo de "reality" show é a eterna e desmedida necessidade que o ser humano tem de querer ver o circo pegar fogo. Isso é o que atrai a audiência. Triângulos amorosos,pegação, intrigas, inveja, botes, venenos e afins, lideram o ranking dos atrativos bigbrothereanos, sem margem de erro.

E, quando (finalmente) a atração chega ao fim de mais uma temporada, ou seja, ao final da "competição", fabrica-se um "vencedor' do mafuá. O herói que conseguiu sair com menos arranhões na imagem, levantado e aclamado pela nação de jornalistas, diretores de novelas e público em geral, que, a essas alturas, só serve mesmo para dar continuidade à vaidade do vencedor. É o que podemos chamar de reflexos de um egocentrismo galgado "a duras penas".



E é isso. De novo. Mais do mesmo.