quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Charles Aznavour traz última turnê ao Brasil

No futebol, acho que o “último romântico”, como diz Lulu Santos, tenha sido Romário. Não acredito que existam hoje ou que ainda virão outros jogadores tão bons quanto o Baixinho, muito menos que antecessores da categoria de Maradona e Zico, só para citar os mais recentes.

Na música ainda existem alguns românticos mundo afora, mas aos poucos eles se despedem, da carreira ou da vida. Aos 83 anos, Charles Aznavour é um desses gênios que estão pendurando a chuteira, ou melhor, o microfone.

Tão associado à música francesa como Tom Jobim está à música brasileira, Frank Sinatra à americana e Luciano Pavarotti à italiana, Aznavour trará para o Brasil sua última turnê, que vem percorrendo o mundo desde 2006. Hoje, a empresa de eventos Poladian Produções anunciou três shows do cantor no país em abril: 17, no Centro de Convenções do Anhembi, em São Paulo; 20, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro; e 29, no Teatro do Sesi de Porto Alegre. O release distribuído à imprensa dá a entender que novas datas em outros locais poderão ser agendadas.

Pelo que o texto adianta, os shows prometem ser imperdíveis. Charles Aznavour virá acompanhado de 28 músicos, incluindo sua orquestra e a filha Katia, com quem fará dueto em “Je Voyage”. O repertório ainda terá, segundo a nota, os sucessos “She”, “La Bohême”, “Que C’est Triste Venise”, “La Mamma”, “Ave Maria” e “Les émigrants”, entre outros.

O Brasil será o primeiro país da turnê latino-americana, que ainda passará por Argentina, Chile, Uruguai, Peru, Colômbia, Venezuela, República Dominicana, Porto Rico, México e Cuba.

De origem armênia, Charles Aznavour nasceu em Paris, no ano de 1924. Começou a cantar ainda criança e alcançou o sucesso quando conheceu Edith Piaf, que o levou com ela para uma turnê para a França e os Estados Unidos.

Ao longo dos mais de 70 anos de carreira, Aznavour compôs e gravou mais de mil canções, em diferentes línguas, e vendeu mais de 100 milhões de discos. Em francês, uma de suas principais composições é “La Bohême”, parceria com Jacques Plante que se tornou um clássico mundial e ganhou até versão em português, na voz de Martinho da Vila. O sambista carioca gravou a canção, sob o título “Boemia”, no CD “Conexões”, de 2003, no qual homenageia a França (leia mais sobre no Universo Musical).

Já em inglês, talvez o maior êxito de Aznavour seja a música “She”, que em 1974 atingiu o topo da parada britânica, mas não teve êxito na França nem nos Estados Unidos. Muitos anos depois, em 1999, a canção voltou à tona, desta vez como sucesso mundial, na voz de Elvis Costello, que a gravou para a trilha sonora do filme “Um Lugar Chamado Nothing Hill”.

Charles Aznavou também gravou em espanhol, italiano e alemão. A despeito de sua aposentadoria, estará sempre na galeria dos grandes “românticos”, não só nos litorais deste oceano.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Falta repertório para Claudia Leitte ser uma nova Ivete Sangalo

Capa da revista “Vip” de janeiro, onde exibe suas generosas curvas, Claudia Leitte tá podendo. Às vésperas do carnaval, a cantora de axé divide-se entre os preparativos para a folia em Salvador e os programas de auditório de quase todos os canais.

Nessa queda de braço entre Gugus e Faustões, a Globo levou a melhor. Ontem, o “Domingão do Faustão” orgulhava-se de exibir a última apresentação do Babado Novo na TV com essa formação. No dia 17 de fevereiro, Claudia Leitte grava CD e DVD ao vivo na Praia de Copacabana, com os quais iniciará oficialmente a carreira solo.

A saída de Claudia Leitte do Babado Novo foi um caminho natural. Ela sempre teve destaque muito maior que os demais músicos, numa relação desigual e até injusta, por se tratar de um grupo. Aliás, este descompasso entre a exposição exagerada dos cantores e o ostracismo dos instrumentistas é uma característica peculiar das bandas de axé. Foi, certamente, um dos motivos que levaram Ivete Sangalo a partir para a carreira solo, que se tornaria muito mais brilhante que a dos tempos de Banda Eva.

É óbvio que Claudia Leitte tem Ivete Sangalo como um espelho e busca dividir com ela o posto de musa nacional. O que, diga-se, não é novidade. Em 2004, o Universo Musical publicou uma matéria de Neilton Silva, especialista em axé music, sobre o primeiro DVD do Babado Novo, na qual ele lembrava que, no início da carreira, Claudinha era comparada a Ivete até mesmo no timbre de voz.

O tempo passou e Claudia Leitte ganhou personalidade. Mas o fato de iniciar a carreira solo gravando CD e DVD num ponto turístico do Rio famoso mundialmente, da mesma forma que Ivete fizera com “Ao Vivo no Maracanã”, comprova que ela continua seguindo os passos da rival.

Assim como Ivete Sangalo, Claudia Leitte é talentosa, bonita, simpática, carismática e boa cantora. Mas existe um fator que, pelo menos até o momento, deixa a primeira a quilômetros à frente da segunda: repertório.

Ivete, quando começou a carreira solo, tinha uma base sólida formada por canções boas e de grande sucesso gravadas com a Banda Eva. Tanto que seu primeiro DVD solo, “MTV Ao Vivo”, trazia várias músicas do grupo, embora ela já colecionasse, sozinha, mega-hits do quilate de “Sorte Grande” e “Festa”. O rico passado também foi lembrado em “Ao Vivo no Maracanã”, DVD mais vendido até hoje no Brasil.

Claudia Leitte, por sua vez, sofre com o repertório irregular do Babado Novo. Com apenas quatro CDs no currículo, o grupo não possui tantos sucessos, e os que tem, à exceção da boa “Eu Fico”, não são nenhuma Brastemp. Canções como “Safado, Cachorro, Sem-Vergonha”, “Bola de Sabão” e “Insolação do Coração” agitam o público nos shows, como pôde-se ver recentemente no Festival de Verão de Salvador, mas, musicalmente, estão muito aquém de “Arerê”, “Alô Paixão”, “Beleza Rara” e outras tantas pérolas da Banda Eva.

Outra deficiência do Babado Novo, que Claudia Leitte pode explorar na carreira solo, são as baladas. O grupo não possui no repertório boas canções de amor, normalmente bem aceitas por emissoras de rádios de diferentes estilos.

Claudia Leitte não compõe tão bem quanto Ivete, mas isso pode ser aprimorado com o tempo e resolvido, a curto prazo, com a ajuda de bons compositores, o que não falta na música baiana. Se parar de fazer tantas releituras, como a infeliz versão do Babado Novo para “Dyer Maker”, do Led Zeppelin, e tiver competência na escolha do repertório, Claudia Leitte tem tudo para brilhar ainda mais em carreira solo. Talvez não supere a rival, pelo conjunto de boas canções que Ivete compôs ou interpretou, sozinha e na Banda Eva. Mas, pelo menos, talento para tentar não falta.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Silvio Santos deixa Mara Maravilha “nua” em novo programa do SBT

Sob o comando de Silvio Santos, estreou no último domingo, no SBT, o programa “Nada Além da Verdade”, que tem como “protagonista” um detector de mentiras. Um artista convidado responde, previamente, a 100 perguntas. Vinte e uma delas são repetidas no ar e, caso a máquina dê sempre o resultado verdadeiro, a pessoa fatura o prêmio de R$ 100 mil.

A primeira a ser sabatinada foi a cantora gospel Mara Maravilha. Teoricamente, uma boa escolha, pois Mara é uma pessoa autêntica, que não tem medo de dizer o que pensa. Tive a oportunidade de comprovar essa característica em algumas entrevistas que ela me concedeu para o Universo Musical.

A autenticidade de Mara é interpretada como antipatia por alguns colegas jornalistas que cobrem a música gospel. Nunca vi dessa forma, pois comigo ela sempre foi simpática e nunca se recusou a responder nenhuma pergunta. Entretanto, não acho que Mara precisava ter se exposto daquela forma.

Em primeiro lugar, porque existe um enorme preconceito contra os evangélicos, sobretudo os artistas. Muitos acham que a pessoa, ao se converter, vira um ET ou um zumbi. Ou seja, não é mais deste mundo, por isso não pode errar. Sabe aquela história bíblica de Maria Madalena, de atirar a primeira pedra? É por aí.

Tudo bem que esse preconceito seja alimentado por muitos evangélicos, que se acham os donos da verdade e passam a não respeitar outros credos. Mas nem todos são assim. Mara, pelo que conheço, é um exemplo positivo de tolerância religiosa.

Além disso, todo artista tem uma imagem a zelar. Se canta músicas religiosas, então, a preocupação deve ser dobrada, pois a mensagem se mistura à vida pessoal de quem a prega.

Dito isto, vamos ao programa. Uma das primeiras perguntas de Silvio Santos foi algo do tipo: “você se arrepende de todos os pecados que cometeu antes da conversão”? A resposta foi sim. Mesmo que seja verdade, como a máquina confirmou, essa afirmação foi o maior pecado de Mara e a traiu frente às câmeras.

A cantora disse, com todas as letras, que não posou nua por razões artísticas, mas sim pelo dinheiro e pela fama. Até aí seria normal, se ela não repetisse o tempo todo que estava participando daquele programa por causa do dinheiro e que, apesar da insistência de Silvio Santos para que desistisse, iria até o final para ganhar o prêmio.

Parafraseando Caetano Veloso, “a pergunta vinha”: se Mara se arrependera dos pecados cometidos antes da conversão, o que inclui as fotos para a revista masculina, por que estava nua de novo? Sobre o corpo havia roupas, mas sua vida ficou completamente exposta diante de perguntas íntimas e constrangedoras. Ela passou por várias situações embaraçosas, como dizer, na frente da mãe, que já falara mal dela pelas costas, que deseja ter de volta o mesmo sucesso da época de apresentadora infantil e também que usou drogas. E confessou tudo isso por dinheiro.

No final, Mara não levou os R$ 100 mil para casa; ficou com R$ 25 mil. A máquina acusou como falsa a última resposta, sobre supostas brigas entre os pais da cantora por causa da fama da filha.

Mas a ambição fracassada não foi seu maior erro. Faltou discernimento, sensatez. Se não dá para posar de santo, também não precisa divulgar os pecados. Mara esqueceu que a imagem de um artista gospel não é feita apenas com o corpo, ou com as roupas por cima dele. Com isso, caiu na arapuca de Silvio Santos e tornou-se mais uma vítima – complacente, vale frisar – de um preconceito que, se não ajuda a alimentar, também não contrubui para diminuir.

A trilha sonora deste post é a música “Somos Todos Iguais”, da Banda Catedral.

PS: Mara Maravilha está lançando um novo CD, “Importante é Amar”, pela gravadora Line Records. No dia 12 de fevereiro, às 20h, ela fará um pocket show de lançamento na Saraiva Mega Store do Morumbi Shopping, em São Paulo.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Nota 10 / Nota 0

NOTA 10: Para a escolha do grupo Mamonas Assassinas como próximos homenageados do programa “Por Toda Minha Vida”. Uma ótima opção, sem dúvida.

NOTA 0: Para o “Jogo Aberto”, da Band, que não satisfeito em chamar de “Bento Cardoso” a cidade fluminense de Cardoso Moreira, ainda inventou uma Resende com “z” no lugar de “s”. É muita falta de consideração com o Campeonato Carioca...

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Marcelo Nascimento ganha primeiro site

É com orgulho que anuncio a estréia do primeiro site oficial do cantor Marcelo Nascimento: www.marcelonascimento.net.

Tenho alguns motivos para me orgulhar. Alguns deles não tem como pôr em palavras; como diria Djavan, “só eu sei as esquinas por que passei”. Mas a maioria deles dá para compartilhar aqui neste espaço.

Em primeiro lugar, utilizei vários recursos do Flash que conferiram ao site um ritmo bem legal. Cada seção tem uma animação bacana que a antecede, mas nenhuma delas tem mais destaque que o conteúdo. Este, ao meu ver, é o principal mérito não só do site do Marcelo, mas também o do cantor Marcos Góes, outro que foi feito em Flash e estreou ano passado, antes de eu lançar o blog.

Outra coisa bacana dos efeitos é que eles têm uma coerência, uma inter-relação. Um dos recursos que mais utilizei foi o da máscara, que faz textos e imagens ganharem formas geométricas. O objetivo, em todos os casos, foi valorizar o nome do Marcelo e as fotos, que estão muito boas.

Tanto o site do Goes quanto o do Marcelo foram feitos para “caberem” na resolução de 800 x 600 pixels (ainda utilizada por muitas pessoas), sem que haja qualquer tipo de rolagem. Com isso, os espaços ficam reduzidos e a distribuição do conteúdo torna-se mais difícil. Mas acho que, nos dois casos, consegui resolver bem a questão.

No site do Marcelo, duas partes me agradaram de forma especial. Uma delas é a abertura, a primeira coisa a aparecer mas a última a ser feita. A intenção foi criar um certo suspense para a entrada do nome do cantor, que só aparece inteiro na última foto.

Nas imagens também há esse clima, embora isso não esteja tão visível. Repare que somente a quinta e última foto é de frente, com o Marcelo sorrindo, como se desse boas-vindas ao internauta. Acho que esse jogo entre textos e fotos, a forma como eles se misturam e se complementam, ao mesmo tempo resume e adianta o que virá adiante.

A outra “queridinha” é a galeria de fotos, que fica na seção Multimídia. A idéia de fazê-la como um rolo de filme cinematográfico que passa pela tela surgiu totalmente sem querer. Estava eu no Photoshop buscando um efeito para as fotos quando encontrei um filtro bacana que criou essa impressão de negativo. O restante surgiu naturalmente e o resultado superou minhas próprias expectativas.

O site estreou esta semana. Falta somente a Agenda, que o Marcelo está preparando. Convido-o a visitar o espaço virtual e deixar aqui sua opinião.

Para quem não conhece, Marcelo Nascimento é um cantor, compositor e produtor da música gospel, com mais de 10 anos de carreira. Ele pertence a uma família em que praticamente todos são músicos há três ou quatro gerações. Quem não é evangélico provavelmente conhece, no mínimo, dois irmãos de Marcelo: Mattos Nascimento, que já tocou com os Paralamas do Sucesso e se tornou famoso pelo bordão “Oh! Glória” (usado, inclusive, numa campanha política dele), e Rose Nascimento, que forma o trio de cantoras gospel mais populares do Brasil, ao lado de Cassiane e Aline Barros.

O primeiro CD de Marcelo Nascimento, “De Todo Meu Coração”, saiu em 1995, de forma independente. Ao longo dos anos 1990 e 2000, ele lançou vários discos solo e em dupla com o irmão Tuca por diferentes gravadoras, entre elas a MK Music.

A estréia na Line Records, atual gravadora, aconteceu em 2004, com o álbum de regravações “Marcelo Nascimento & Família” – na verdade, um disco gravado de forma independente que depois foi comprado e relançado pela Line. O CD incluía o maior sucesso de Marcelo, “Um Milagre em Jericó”, numa versão em dueto com Mattos, uma de suas maiores influências.

No final de 2007, o cantor lançou o CD “Por Mim”, com 14 músicas inéditas. Sou suspeito para falar, pois Marcelo é meu cliente e amigo e eu não conheço toda a sua discografia. Mas, ainda assim, me arrisco a dizer que “Por Mim” é um de seus melhores trabalhos.

A influência de Mattos é percebida logo na música inicial, “A Vitória é Minha”, e segue ao longo do disco, principalmente pelo teor evangelístico das canções. A quinta faixa, “Teu Encontro”, é uma verdadeira obra-prima de Marcelo, que faz belo dueto com o sobrinho Douglas. A melodia também é linda, em tom acústico e com toques flamencos.

Mas a grande surpresa é “A Vitória é Tua”, um reggae irresistível. Destaco ainda as baladas “Volta Correndo” e “Só Mesmo por Amor” e as agitadas “Renova as Nossas Vidas” e “Paz Real”.

Parabéns a Marcelo pelo CD e, por que não, pelo site!

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Rio 2016: uma piada de mau gosto

Na TV passa uma propaganda do governo federal que diz: “O Brasil é tão bom quanto seu voto”. Às vezes acho que isso é mesmo verdade, já que eu voto nulo.

A candidatura do Rio de Janeiro à sede dos Jogos Olímpicos de 2016 é mais uma prova de que, como dizia o general francês Charles de Gaulle, este país realmente não é sério. Afirmação muito bem registrada por Rita Lee na canção “M Te Vê”, segundo a qual o Brasil dos anos 90 tinha “um pé no penta, o outro em Chernobyl”. Nos anos 2000, estamos mais próximos do Iraque, mas as nossas autoridades parecem estar mais preocupadas em aparecer nos jornais do que em resolver os problemas da nação.

Não bastou o fiasco da candidatura para 2004. Tanto lá como cá, o circo foi armado para sustentar uma tragédia anunciada. Na época, integrantes do COI (Comitê Olímpico Internacional) até bateram uma bolinha no Maracanã, mas, dentro das quatro linhas de sua sede, em Lausanne, na Suíça, jogaram o Rio para escanteio.

Agora, não houve caos aéreo que segurasse a comitiva brasileira. Enquanto todos os adversários cariocas mandaram seus projetos por correio, políticos e autoridades esportivas nacionais pegaram o meu e o seu dinheiro, fizeram as malas e partiram para a Suíça. Sem a violência e a desordem urbana que deixaram para trás, encontraram o cenário ideal para estamparem largos sorrisos frente às câmeras de TV. O saudoso Carequinha não faria palhaçada maior.

O Rio de Janeiro não tem a menor estrutura para sediar um evento do porte das Olimpíadas. Fala-se muito no sucesso dos Jogos Pan-americanos, mas é como comparar uma bicicleta a um avião supersônico. Além disso, no Pan ocorreram vários problemas com as instalações e a venda de ingressos, entre outros, todos eles minimizados por nossa imprensa ufanista.

A falta de estrutura carioca começa, é claro, pela segurança. Como a cidade quer receber, durante quase um mês, milhares de pessoas do mundo inteiro se não consegue nem garantir transporte seguro do aeroporto até os hotéis? Quantos ônibus de excursão são assaltados todos os meses na Linha Vermelha, sem que as autoridades tomem a decisão de estabelecer ali um policiamento ostensivo? Isso quando a Linha Vermelha está aberta, né? No último domingo, ficou nove minutos fechada por causa de um tiroteio - uma semana antes, foram 30. E ainda tem a Linha Amarela, a Avenida Brasil e outras tantas vias importantes que estão à mercê do tal “poder paralelo”.

O que dizer, então, dos assaltos na orla? Pode existir um absurdo maior que este? O sujeito está caminhando tranqüilamente pelo calçadão de Copacabana ou Ipanema quando, em meio a centenas de pessoas – nenhuma delas policial ou guarda municipal – é furtado. E se tentar reagir pode morrer, nas mãos do bandido ou no trânsito, ao atravessar a rua, como aconteceu recentemente com um turista italiano.

O sistema de transporte carioca beira o ridículo. Se um paulistano perde o metrô, não gasta mais de um minuto e meio até pegar outra composição. Já o carioca que passa pela mesma situação chega a amargar seis minutos de uma longa espera. E quando o metrô chega, está tão cheio que faz o cidadão pensar se vale mesmo a pena trocar as ruas pelos trilhos.

A malha metroviária do Rio é de apenas 42 quilômetros, menor que a de São Paulo (62 km) e a de outras metrópoles de países em desenvolvimento, como a Cidade do México (250 km). Isso sem contar as grandes cidades de países do Primeiro Mundo, como Tóquio (292 km), Madri (224 km) e Chicago (166 km), concorrentes diretas do Rio na disputa pela sede das Olimpíadas de 2016.

Outro problema latente do Rio de Janeiro é a poluição da Baía de Guanabara, onde seriam realizadas todas as competições marítimas. Há muitos anos fala-se na despoluição, que é caríssima e nunca aconteceu. Você acredita que será feita agora?

Se para os Jogos Pan-americanos foram gastos R$ 4 bilhões, não dá nem para estimar quanto seria necessário investir para deixar o Rio de Janeiro minimamente preparado para receber as Olimpíadas. Sediar o evento é um sonho dos cariocas e faria muito bem à cidade, mas não seria melhor, antes de pensar nisso, buscar investimentos que garantissem uma vida mais digna à população e mais segurança para as pessoas que visitam o Rio?

A resposta parece óbvia. Mas quem está preocupado com isso? O importante, mesmo, em ano de eleição, é dar gargalhada para as câmeras, tendo em mãos um projeto tão bonito quanto utópico. Não é, Sérgio Cabral? Só faltou perguntar se tem marmelada.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

EWF fará o carnaval do funk no Brasil

Poucos dias depois do carnaval, São Paulo e Rio de Janeiro trocarão o samba de suas passarelas pelo funk. Não o dos morros cariocas, mas o original, americano. Um dos mais antigos representantes do gênero na ativa, o grupo Earth, Wind and Fire quebrará um jejum de mais de 20 anos longe dos palcos brasileiros com dois shows no país: um no dia 15 de fevereiro, no Via Funchal, em Sampa, e o outro no dia 16, no Vivo Rio.

O retorno do Earth, Wind and Fire ao Brasil é uma ótima notícia neste início de 2008, não só pelo fim da longa ausência, mas pela indiscutível qualidade musical do grupo. E o melhor de tudo é que não será preciso pagar uma bagatela, como geralmente acontece com atrações estrangeiras, para ver e ouvir de pertinho a explosão sonora do EWF. Enquanto no show do Police, realizado em 2006 no Maracanã, a entrada não saía por menos de R$ 160, agora os valores são bem mais convidativos: os ingressos mais baratos custam R$ 50 (RJ) e R$ 60 (SP).

O Earth, Wind and Fire é liderado por Philip Bailey (voz e percussão), Verdine White (baixo) e Ralph Johnson (percussão), remanescentes da formação clássica do grupo. Nos anos 80, durante um período em carreira solo, Bailay tornou-se conhecido pelo dueto com Phil Collins no hit “Easy Lover”. Já Verdine é irmão do fundador do EWF, Maurice White.

O grupo surgiu em 1969, na cidade americana de Chicago, depois que Maurice, fã de Sly & The Family Stone, deixou o posto de baterista do Ramsey Lewis Trio. Magos na fusão do funk com soul, pop e rock, os músicos do EWF criaram uma sonoridade única, com forte predominância dos instrumentos de percussão e sopro. Com isso, colecionaram dezenas de sucessos que até hoje dominam as pistas de dança mundo afora: “September”, “Boogie Wonderland”, “Let’s Groove”, “Shining Star”, “Sing a Song”, “Getaway”, “In the Stone”. Esta última é muito usada como trilha sonora de eventos, sobretudo por causa da pomposa introdução do naipe de metais.

Apesar do caráter fortemente dançante de suas músicas, o EWF também coleciona ótimas baladas. Pelo menos cinco delas não podem faltar na programação das rádios adultas: “Fantasy”, “Can’t Hide Love”, “After the Love Has Gone”, “Reasons” e “Devotion”.

Todas essas músicas e outras tão boas quanto estão no DVD “Live at Montreux 1997”, lançado em 2005 pela ST2. Tive a felicidade de receber o disco e comentá-lo, na época, para o site Universo Musical. São dois shows magníficos: o de 97 (exibido na íntegra), que marcou a estréia do grupo no famoso festival suíço, e o de 98 (em trechos), para o qual o EWF foi convidado devido ao sucesso da apresentação no ano anterior. Não foi para menos: as antigas canções ganharam arranjos primorosos e os dois shows tiveram produção espetacular. Clique aqui e leia a matéria completa sobre o DVD no Universo Musical.

Se os dois shows do Earth, Wind and Fire no Brasil forem metade do que o grupo mostrou no Festival de Montreux, o verdadeiro carnaval de 2008 vai começar no dia 15 de fevereiro e acabar no dia 16.


Confira o serviço dos shows:

VIA FUNCHAL (SP)
Data: 15 de fevereiro de 2008 (sexta-feira)
Horário: 21h30
Local: Rua Funchal, 65 – Vila Olímpia
Informações: www.viafunchal.com.br
Preços:
- Platéia VIP: R$ 300
- Platéia 1: R$ 200
- Platéia 2: R$ 150
- Platéia 3: R$ 100
- Platéia Lateral: R$ 60
- Mezanino Central: R$ 150
- Mezanino Lateral: R$ 100
- Camarote: R$ 300

VIVO RIO (RJ)
Data: 16 de fevereiro de 2008 (sábado)
Horário: 22h
Local: Av. Infante Dom Henrique, 85 – Parque do Flamengo
Informações: www.vivorio.com.br
Preços:
- Setor 3: R$ 150
- Setor 2: R$ 160
- Setor 1: R$ 180
- VIP: R$ 250
- Frisas: R$ 80
- Camarote B: R$ 50 - Camarote A: R$ 250

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Nota 10 / Nota 0

NOTA 10: Para a reportagem do “Jornal da Band” de ontem sobre o DVD pirata “Tropa de Elite 3”. Quando os três âncoras não batem cabeça, o programa costuma ser muito bom. Ontem, sem um deles (Joelmir Betting), a coisa fluiu melhor.

NOTA 0: Para os comentários de Carlos Nascimento no “SBT Brasil”. Ele tenta ser engraçadinho, mas não dá uma dentro.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

BBB8: mais do mesmo

Hoje começa mais um triste capítulo da história da televisão brasileira: uma nova edição do “Big Brother Brasil”.

Sabe aquele papo de “não vi e não gostei”? É por aí. Mas não é má-vontade. Juro, tentei assistir às edições anteriores, mas a minha paciência não me permitiu passar mais de cinco minutos no mesmo canal. A mão, nervosa, implora o controle remoto e o dedo indicador, como se tivesse vida própria, aperta o primeiro botão que encontra.

Se o programa se restringisse ao horário posterior à novela das oito (ou nove), bastaria não ver. Mas tem os flashes durante a programação da Globo, os comentários em outros canais – que você acaba assistindo, mesmo de relance, no zapping – as conversas de botequim, as capas de jornais e revistas... Enfim, é quase impossível passar despercebido. Tá na boca do povo.

Mas popularidade nem sempre é sinônimo de qualidade. Quantas bandas de axé e pagode venderam milhões de cópias nos anos 90 e hoje são ignoradas? No caso do BBB, a insistência encontra respaldo na audiência. Entretanto, os erros se repetem a cada ano.

Por mais que o diretor Boninho diga, como fez em entrevista ao “Globo Online”, que a linguagem se renova e que não falte gás mesmo depois de 8 anos, o BBB é extremamente previsível. A maioria dos participantes resume-se a muito corpo e pouca mente. Um típico retrato do programa, que se arrasta por meses sem apresentar qualquer conteúdo.

Aliás, este é o maior problema de programas como “Big Brother”, “TV Fama”, “Superpop”, “Vídeo Show” e tantos outros: a futilidade. Não que se espere deste tipo de atração uma aula de cultura. Mas quem disse que entretenimento e informação – no sentido educativo da palavra – não podem andar juntos? Está aí “A Grande Família”, há sete anos no ar, provando que é possível divertir com inteligência.

Esta oitava edição do BBB, antes de ir ao ar, já revela outro problema do país, não só na TV: a concentração da produção cultural em ou para São Paulo. Seis dos 14 participantes (quase 43%) são paulistas, sendo que o último convidado parece ter entrado na marra. Primeiro, um goiano saiu por motivo de doença. Seu substituto, de Limeira (SP), também deixou o programa antes do início e foi trocado por outro de uma cidade próxima, Campinas. Enquanto isso, não há representantes da Região Norte e apenas um é da Região Sul, maior exportadora de modelos do país. Isso porque, segundo Boninho, beleza, no BBB, é fundamental.

O fato de São Paulo possuir o monopólio do ibope (vale lembrar que audiência é medida em tempo real na capital paulista) impõe à TV brasileira quase uma ditadura estética. Digo “estética” na definição mais ampla possível da palavra: forma física, sotaque, roupas, costumes, idéias... Programas esportivos como o “Terceiro Tempo”, da Record, e jornalísticos, como o “Brasil Urgente”, da Band, comprovam esse bairrismo. Com o BBB não foi diferente – das sete edições anteriores, três foram vencidas por paulistas – e, ao que parece, não será.

Mas a obviedade do “Big Brother”, que fará a oitava edição ser igual a todas as outras, está em sua própria essência. Transcende regiões do Brasil e o próprio país. É a egolatria de seus participantes, criadores ou vítimas – você decide – de uma sociedade narcisista, que encontra na televisão um espelho do que é, do que quer ser ou do que querem que seja.

O BBB é mais um produto da era da câmera digital. Os brothers vivem em seu You Tube particular, no Projac. Alimentam o sonho deles e de milhões de pessoas que os “acessam” de se tornarem ricos e famosos sem muito esforço, num circo e num círculo viciosos.

É engraçado que o “Big Brother” seja transmitido nesta época do ano, quando as principais atrações da Rede Globo estão de férias e as reprises dominam a programação. O BBB8, então, seria uma novidade em meio às repetições. Mas não é. O que se vê, como diz a música da Legião Urbana, é mais do mesmo. O pior de tudo é saber a resposta do “povão” à pergunta de Renato Russo no refrão: “Não era isso que você queria ouvir?” Plim, plim.

Nota 10 / Nota 0

NOTA 10: Para o comercial do CD “The Best So Far”, de Whitney Houston. Mais uma bola dentro da Som Livre.

NOTA 0: Para Luciano Huck, que, no afã de elogiar Chorão, vocalista do Charlie Brown Jr., o chamou de “poeta”. Chorão é um bom compositor de rock e tem a habilidade de se comunicar com os jovens, mas para poeta há uma distância considerável.

sábado, 5 de janeiro de 2008

Nota 10 / Nota 0

NOTA 10: Para o “SBT Realidade” da última quarta-feira, que mostrou as várias faces de Nova York retratadas no cinema. Cenas memoráveis, de “King Kong” a “Madagascar”, em um programa leve e irresistível.

NOTA 0: Para a reportagem do “RedeTV! News” de quarta-feira sobre um ponto turístico da Bolívia onde “não haviam (sic) pistas de pouso” para aviões. O redator e a âncora devem ter faltado à aula de português em que o professor explicou que o verbo “haver”, no sentido de “existir”, é impessoal, ou seja, mantém-se no singular.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Cassiane x MK: quem perde menos?

Foto: Marcos Bin

Olá amigo, feliz ano novo. Começo 2008 falando um pouco de música gospel.

Em 2007, não acompanhei o segmento com a mesma intensidade de anos anteriores. Pelas notícias que li na mídia e recebi das assessorias de imprensa, pareceu-me um ano sem grandes lançamentos ou destaques individuais.

Até dezembro, apenas quatro fatos me chamaram a atenção: 1 – o desmembramento do grupo Toque no Altar, no auge da carreira; 2 – a vitória de Aline Barros no Grammy Latino, o terceiro dela, segundo consecutivo; 3 – a estréia da sertaneja Sula Miranda como cantora evangélica; 4 – e o interesse da Globo na música gospel, primeiramente inserindo uma antiga canção de Aline Barros, Recomeçar, na trilha sonora da novela das oito, “Duas Caras” (feito inédito), e depois lançando, pela Som Livre, uma coletânea do gênero.

Mas, ao apagar das luzes de 2007, eis que surge uma notícia realmente bombástica: a saída de Cassiane da gravadora MK Music. Para quem não conhece o mercado gospel em detalhes, vale uma breve explicação. Com seu estilo pentecostal, Cassiane tornou-se a artista mais popular e a maior vendedora de discos da música evangélica nacional. Ela foi a única do segmento a atingir a marca de 1 milhão de cópias vendidas, feito conseguido com o álbum Com Muito Louvor, lançado pela MK Music em 1999. Cassiane mantinha contrato com a gravadora desde 1992, quando a empresa ainda se chamava MK Publicitá.

A saída de Cassiane da MK, em si, não chega a ser novidade, porque os desentendimentos entre ambos já eram públicos desde 2005. Naquele ano, Cassiane lançou o CD Sementes da Fé depois de muita especulação. O estopim dos boatos teria sido a ausência da cantora no megaevento Canta Zona Sul, promovido pela MK.

Na época, em entrevista para o Universo Musical, Cassiane me explicou que não comparecera porque já tinha outro evento agendado, o Clamor pela Paz, organizado pela Rede Melodia - emissora de rádio do mesmo grupo da gravadora concorrente Top Gospel. Ela resumiu o problema como “falta de comunicação”, mas confessou ter havido um certo constrangimento:

“Como não tinha como fazer os dois (eventos), tive que cumprir meu compromisso. Eles (a MK) ficaram tristes principalmente por causa do comercial na televisão, que acabou passando na Globo. Eu não sabia que isso iria acontecer. (...) Aí surgiram os boatos – eu fui para todas as gravadoras ao mesmo tempo. Eu dizia na época: ‘estou na MK até quando Deus mandar'”, contou-me Cassiane, numa entrevista realizada em novembro de 2005, no Reuel Studio, que pertence ao marido da cantora, o produtor Jairinho Manhães.

Se a separação era esperada, a forma como ela aconteceu foi, de certa forma, surpreendente. Falou-se muito que Cassiane, ao sair da MK, iria para a Central Gospel, gravadora dirigida por Silas Malafaia. A afinidade entre eles é grande, pois ambos são pastores da igreja Assembléia de Deus. Além disso, o CD De Criança para Criança, trabalho de estréia de Jayane, filha de Cassiane e Jairinho, foi lançado, em 2006, pela Central Gospel.

Mas Cassiane preferiu o caminho da independência. Com Jairinho, montou o selo Reuel Music, também uma editora, e lançou, no início de dezembro passado, o CD Faça Diferença. Vai aqui um parênteses: como informa Elvis Tavares no site Efrata Music, este é o mesmo título de um CD da cantora adventista Tatiana Costa. É mais uma prova da falta de criatividade que permeia o mercado gospel, algo que já tive a oportunidade de comentar, algumas vezes, no Universo Musical. Mas este é um assunto para outra postagem.

Mais um fato que merece destaque na briga Cassiane x MK é que a separação ocorreu de forma litigiosa. Novamente recorro ao meu amigo Elvis Tavares, que além de compositor, é advogado e, portanto, está inteirado sobre o mundo jurídico. No site da Efrata, ele informa que há na Justiça carioca duas ações referentes ao tema: uma no TJ da capital fluminense, onde a cantora questiona a gravadora, e a outra no fórum da Ilha do Governador, onde a gravadora questiona a cantora.

Some-se a tudo isso o fato de que Cassiane era duplamente contratada da MK Music: como artista solo e como integrante da dupla Cassiane e Jairinho, que em junho do ano passado lançou o CD Falando de Amor pela gravadora de São Cristóvão. O último trabalho de Cassiane pela MK, sozinha, foi um álbum retrospectivo, o CD/DVD ao vivo 25 Anos de Muito Louvor, de 2006.

Depois de tudo isso posto, vamos à pergunta do título: quem perde menos nessa separação? Na minha opinião, Cassiane. Ela tem quase 30 anos de uma carreira sólida e um público muito fiel, que certamente a acompanhará mesmo sem o grande poder de mídia da MK. E Cassiane tem uma série de exemplos de artistas que, antes dela, adotaram a independência com sucesso: Rose Nascimento, Ludmila Ferber, Marcos Goes, Álvaro Tito, todos donos de seus selos e muito longe de caírem no esquecimento popular.

Talvez a pior conseqüência para Cassiane seja a possível supressão de seus discos das prateleiras das lojas, como já aconteceu com quem deixou a MK de forma, digamos, não amistosa. Vide o exemplo da banda Catedral, cujo CD 10 Anos ao Vivo no Imperator, lançado em 1997, está há anos fora de catálogo, embora a procura do público seja grande.

A MK é uma grande gravadora, dona de uma estrutura digna de multinacional. Mas a saída de Cassiane – que certamente representará um baque nos cofres da companhia, ainda mais em tempos de recessão para o mercado da música – e a possibilidade de que o mesmo aconteça com outros artistas importantes, como há tempos vem sendo cogitado nos bastidores do mercado, pode ser o indício de que algumas mudanças internas são necessárias, sobretudo na filosofia da empresa. Uma proximidade maior com as demais gravadoras evangélicas seria um bom começo. Se isso realmente acontecer, não existirão perdedores.