CRÍTICA DE CD
● Disco: Reinas em glória
● Artista: Álvaro Tito
● Gravadora: Sony Music
Há cerca de duas semanas, fui à loja El Shaday do Norte Shopping, no Rio, prestigiar o amigo Elvis Tavares na noite de autógrafos do livro
Álvaro Tito - Uma biografia sem barreiras (Editora Ágape), do qual falei recentemente, em outro
post. Lá, para minha surpresa, tive a oportunidade de reencontrar o biografado, que muito simpaticamente me presenteou com seu mais recente CD,
Reinas em glória (Sony Music).
Pode parecer tarde para comentar o álbum, que foi lançado em 2011. Mas, quando o assunto é Álvaro Tito, eu pareço mesmo estar sempre atrasado. A última vez em que nos encontramos foi numa
festa de fim de ano da gravadora Line Records, em Nova Iguaçu, em 2004. Na época, eu já estava devendo ao Álvaro, há mais de um ano, a entrega do troféu de Melhor Disco Gospel de 2003, pelo CD
Levante-te, numa
seleção que fiz para o Universo Musical, envolvendo artistas, álbuns e shows de diferentes estilos, como era de praxe no site. Não pude levar o troféu para aquele evento, e até hoje Álvaro Tito está num "seleto" grupo dos poucos a quem não premiei pessoalmente. Além dele, só a banda Jota Quest e o cantor Alex Cohen não receberam o troféu, que foi entregue a Rita Lee, irmãos Caymmi, Dudu Nobre, Zeca Pagodinho, Ivete Sangalo, J. Neto, Kleber Lucas e outros grandes nomes da música brasileira, popular e evangélica.
A primeira impressão que tive ao ouvir
Reinas em glória, ainda na loja do Norte Shopping, foi a mesma da época em que escutei
Levante-te. Algo como "esse cara realmente gosta de Stevie Wonder". Em
Reinas em glória, a influência é explícita, por exemplo, nos funks
Deus é nosso refúgio e
Sete castiçais de ouro (ambas de Álvaro Tito).
Mas, assim como há 11 anos, uma audição detalhada revela muito mais. Álvaro Tito é um cantor com a rara habilidade de conjugar técnica perfeita e emoção à flor da pele. Suas interpretações são tão viscerais que ele, mesmo sem ter escrito ou musicado uma canção, poderia ser considerado coautor da obra. Certamente, vários de seus compositores - se não todos - surpreendem-se depois de lhe entregar suas obras cruas e ver o que elas se tornaram. Com a mesma convicção, é possível afirmar que muitas músicas que gravou só se mostram tão grandiosas graças à sua habilidade não só como cantor, mas também como produtor e arranjador. Afinal, como aprendemos na biografia escrita por Elvis Tavares, o multi-instrumentista Álvaro Tito produz e arranja todos os seus álbuns.
Para traduzir essas palavras em música, vale citar a faixa
Minha provação, do consagrado compositor Edison Coelho. Talvez seja a canção de
Reinas em glória que melhor ilustre os talentos múltiplos de Álvaro Tito. A letra tem uma temática bem simples - "há no mundo tanta gente chorando mais, sofrendo mais que você". Mas a solução que Álvaro criou para os arranjos, fazendo com que a canção cresça ao longo da execução, embalada por um coral de arrepiar, até o final arrebatador, é para aplaudir de pé.
Ideia semelhante é apresentada, de modo mais simples, em
A sala do banquete, do próprio Álvaro Tito. É outra canção em que o coral - no melhor estilo da gospel music das igrejas americanas, com palmas e tudo - faz grande diferença.
Mas no somatório de letra, voz e instrumental, o grande destaque do CD é a música de abertura,
Somente pela graça, na qual o texto inspirado de Elvis Tavares (mesmo autor de
Não há barreiras, maior sucesso de Álvaro Tito) é emoldurado por um lindo arranjo orquestral, numa bem dosada mistura dos teclados de Fábio Santa Cruz e das cordas de Aysllany Edifrance, Gabriel Gonçalves, Wanderson Cesar (violinos) e Mateus Rangel (violoncelo).
Multifacetado, Álvaro Tito vai do funk-groove-suingado
Carregado piano (autoral) à balada romântica
Aconteceu (Daniel Gomes), com a participação precisa do sax de Abdiel Arsênio, que também brilha na balada pop
Deposito toda minha fé. No meio do caminho, passa pela jazzística
Esse nome tem poder (Álvaro Tito), em que é acompanhado pela formação baixo (Dudu Bernardo), bateria (Rodrigo Ribeiro), violão (Pablo Chies) e teclados (Fábio Santa Cruz).
Subindo e descendo tons como se fossem degraus, Álvaro Tito brinca com a voz, em seus conhecidos melismas, em três músicas compostas por parentes -
Reinas em glória, do primo Manoel S. O. Filho;
As promessas de Deus, bela letra de Jorge Severiano, pai do cantor; e
Na beira da estrada, de sua mãe, Olindina Ramos. Vale ressaltar que o coral tem a participação da irmã de Álvaro, Elvira.
Completam o repertório de 14 faixas as músicas
Guarda o que tens e
O vale de Jaboque, mais dois exemplos do domínio que Álvaro Tito tem de sua voz e da produção que o cerca. É um músico completo, no auge de sua forma.
Cada vez que ouço
Reinas em glória, gosto mais do disco. Se eu tivesse feito a escolha dos melhores de 2011, a essa altura, provavelmente, estaria devendo dois troféus a Álvaro Tito.