quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Music and me


Para a maioria das pessoas, a música é apenas uma forma de diversão. Ouvir uma canção no rádio ou assistir a um show é um passatempo como outro qualquer. E deixar de ver/ouvir um artista, mesmo que seja um dos seus favoritos, não é o fim do mundo.

Comigo não é assim. Música, pra mim, é coisa séria. Por exemplo, ter perdido a oportunidade de assistir, anteontem, ao show de Stevie Wonder na Praia de Copacabana, por mais morno que tenha se mostrado no final, seria uma espécie de sacrilégio.

É difícil definir a importância da música na minha vida. Ver um artista do qual sou fã é como aprender mais, como preencher um espaço vazio. Em resumo, embora não sintetize todo o meu sentimento, posso dizer que é uma experiência que me enriquece.

Essas divagações vieram à tona depois que eu assisti, agora há pouco, ao filme "Gonzaga - de pai pra filho". A vida e a obra desses dois ícones da música brasileira são, na mais abrangente concepção da palavra, cultura. Ver um filme sobre eles não foi apenas assistir a uma boa história, nem ouvir um punhado de canções clássicas da MPB. Foi, no mínimo, uma oportunidade de absorver conhecimento sobre um pouco do que de melhor a música brasileira já produziu. Algo que eu não poderia perder, e precisava ser feito na tela do cinema.

O filme é comovente. Em vários momentos, foi preciso conter a emoção. A atuação de Julio Andrade como Gonzaguinha adulto é absurda, no melhor dos sentidos. E as cenas finais, com a reconciliação de pai e filho, culminando no show "A vida do viajante", que fizeram juntos em 1981 (e que gerou um LP, depois convertido em CD), apoteóticas. Decerto a plateia teria aplaudido, não estivesse a sala quase vazia, o que é natural, já que o filme está saindo de cartaz - no Rio, esta semana, apenas uma sala o exibe.

Foi uma pena não tê-lo assistido antes. Mas, como dizem, antes tarde do que nunca, ainda mais para aprender.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Catedral e Novo Som juntos: talento, caráter e honestidade a serviço da boa música gospel


Desde que parei o Universo Musical, em 2008, tenho estado afastado do mundo da música. Um pouco menos do meio gospel, por causa dos meus clientes de web, embora o máximo que faça é ler uma matéria aqui e outra ali. Uma delas, que vi hoje num site gospel – e adaptei para a seção de notícias da editora Efrata Music (um dos meus clientes) – me agradou a ponto de reproduzi-la aqui.

A reportagem, sobre um disco conjunto a ser lançado em 2013 pelas bandas Catedral e Novo Som, por si só é alvissareira, já que esse projeto reunirá as duas melhores bandas de pop-gospel que o Brasil já conheceu. Mas, além disso, a notícia trouxe uma certa nostalgia daqueles bons tempos de convivência musical e do que de melhor eu tirei dali – a amizade com artistas que conjugam talento e caráter.

Mais do que ótimos cantores, do mesmo nível das melhores bandas de pop-rock nacional, Kim (Catedral) e Alex Gonzaga (Novo Som) sempre me chamaram a atenção pela honestidade com que tratavam todo tipo de assunto. E isso, é claro, estende-se à música que fazem e à relação com os fãs.

Portanto, Kim e Alex, caso encontrem este texto pelos Googles da vida, saibam da minha admiração por vocês e da saudade que tenho das nossas entrevistas. Parabéns pela brilhante ideia de unir duas bandas com estradas que tanto se cruzam. A vocês, desejo todo o sucesso do mundo.

Confira abaixo o texto que publiquei no site da Efrata Music:


Catedral e Novo Som gravarão disco juntos

Duas das maiores bandas gospel brasileiras nos anos 80 e 90 – se não as maiores – Catedral e Novo Som lançarão, em 2013, um CD e DVD juntos. O projeto já tem nome: Mais que Amigos = Irmãos. De acordo com o site Gospel Prime, também está prevista uma turnê conjunta pelo Brasil.

Para o ano que vem, Kim, vocalista do Catedral, também prepara o lançamento de um novo CD solo, intitulado Intimidade Sonora. O disco trará sucessos da carreira solo do cantor – que, a partir de 2013, passará a adotar o nome artístico Kim Catedral – e da banda liderada por ele em versões intimistas, com voz, violão e baixo acústico.

As duas bandas guardam histórias semelhantes. O Catedral surgiu em 1987 e lançou seu primeiro disco no ano seguinte, o LP Você, pela extinta Pioneira Evangélica. Em 1994, com o álbum Contra Todo Mal, estreou na então MK Publicitá (hoje MK Music), ampliando o sucesso. Foi uma das bandas gospel mais populares de toda a década, até que, em 1999, deixou o meio evangélico para entrar na multinacional Warner Music, por onde lançou três CDs. Já nos 2000, voltou para uma gravadora gospel, a Line Records, ainda que pelo selo popular New Music – que praticamente só teve o Catedral em seu cast. Em 2003, preparando-se para gravar o primeiro DVD da carreira, o grupo perdeu o guitarrista Cezar, irmão do vocalista Kim e do baixista Júlio, em um acidente de carro. Hoje, Kim, Júlio e o baterista Guilherme seguem carreira independente.

Contemporâneo ao Catedral, o Novo Som também estreou no mercado fonográfico em 1988, com o LP Um Novo Som para Cristo, pela extinta Favoritos Evangélicos. Mesmo sem o apoio de uma grande gravadora, colecionou hits e fãs ao longo dos anos 90 com álbuns como Pra Você (1990) e Meu Universo (1997). Em 2000, estreou na MK Music com o CD Herói dos Heróis. Dois anos depois, por causa de desentendimentos, a banda perdeu seu baixista e principal compositor, Lenilton. Em 2012, assim como o Catedral, o Novo Som segue carreira independente, depois que os remanescentes Alex Gonzaga, Geraldo Abdo e Mito decidiram sair da MK. Recentemente, conforme noticiado no site Gospel+, fãs de Lenilton criaram uma campanha no Facebook pedindo a volta do músico ao Novo Som.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Um detetive viciado na verdade


CRÍTICA DE TV
● Programa: Elementary (série)
● Data: 25/10/2012
● Canal: Universal Channel

Elementary (série)


Lar das minhas séries favoritas - as extintas "House" e "Law & Order" e a longeva "Law & Order Special Victims Unit", já em sua 14ª temporada nos Estados Unidos (em novembro no Brasil) - o Universal Channel estreou ontem "Elementary", uma de suas principais apostas em um momento de renovação de sua grade. A premissa da série é modernizar o mais tradicional detetive britânico, Sherlock Holmes. Na versão de Robert Doherty, o personagem criado no final do século XIX por Arthur Conan Doyle é um ex-viciado em drogas, recém-saído de uma clínica de reabilitação, que troca Londres por Nova York.

No entanto, a mais radical inovação talvez esteja no Dr. Watson, aqui, na verdade, uma ex-médica, a "pantera" Lucy Liu, que inicia a trama como monitora de Holmes, incumbida pelo pai do detetive de mantê-lo na linha. Já o Sherlock vivido pelo ator Jonny Lee Miller é tão desleixado quanto autoconfiante. Com a barba por fazer e repleto de tatuagens, ele é, como não poderia deixar de ser, um gênio na arte da dedução, resolvendo casos que a polícia nova-iorquina não dá conta.

Num determinado momento do primeiro capítulo, Sherlock Holmes diz a Watson que não precisa dela, já que desistiu das drogas. Seu vício, de fato, é outro: a descoberta da verdade. Os olhos esbugalhados e o jeito estressado, muito bem evidenciados pela interpretação de Miller, fazem com que Holmes pareça sempre "high" (alto, ou drogado), como dizem os americanos, em busca de pistas que desvendem o crime. Contraponto total a Joan Watson, "zen" até demais no capítulo piloto. Lucy Liu pareceu tímida no papel de coadjuvante de Holmes.

Em seu primeiro caso, o detetive tem que desvendar o assassinato da esposa de um psiquiatra. A trama, um tanto óbvia, alternou bons momentos com outros mornos. Mas o início parece ser promissor. Com a difícil missão de ocupar o horário que foi da cultuada "House" durante oito anos, "Elementary" tem potencial para agradar os fãs órfãos do médico ranzinza do hospital Princeton-Plainsboro e ganhar novos admiradores. Até porque as séries guardam semelhanças, sobretudo no modo como seus protagonistas solucionam os casos, sejam médicos ou policiais (o próprio David Shore, criador de "House", já confidenciou, em um dos programas "What's up", do Universal, que Sherlock Holmes foi uma de suas principais inspirações para o personagem tão bem interpretado durante oito temporadas por Hugh Laurie).

Apesar de ter faltado um pouco do "gás" de outras séries policiais, como "CSI" e "Law & Order Special Victims Unit", o início de "Elementary" mostrou que o programa deve crescer com novos episódios e personagens.

sábado, 13 de outubro de 2012

Zé Renato garante animação para crianças e adultos em feriado chuvoso


CRÍTICA DE SHOW
● Zé Renato pras Crianças (12/10/2012)

Zé Renato pras Crianças


Depois de uma semana de primavera com temperaturas de alto verão no Rio de Janeiro, a chuva parecia querer estragar o Dia das Crianças - que este ano caiu numa sexta-feira de feriadão ainda mais prolongado para muitos, com o Dia do Comerciário na segunda-feira seguinte (15). Mas o aguaceiro que despencou na Cidade Maravilhosa não tirou o ânimo de quem foi ao Teatro Rival, no Centro da cidade, assistir ao show Zé Renato para Crianças, comandado pelo ex-cantor do grupo Boca Livre.

Sem uma superestrutura de palco à la Adriana Partimpim, Zé Renato (ao violão) e banda calcaram-se na força das músicas para garantir uma apresentação muito animada e divertida. Decisão mais que acertada, já que o repertório do show tem como base seus dois ótimos CDs infantis - Samba pras Crianças (2003) e Forró pras Crianças (2006), mais algumas canções pinçadas dos clássicos A Arca de Noé 1 e 2, de Vinicius de Moraes - do qual ele participou com o Boca Livre -, e outras pérolas do cancioneiro infantil.

De seus discos, Zé Renato misturou canções tipicamente infantis, como O Sapo, a outras não necessariamente direcionadas a crianças, mas que se adaptaram muito bem a esse universo, como o samba Maracangalha (Dorival Caymmi) e o forró Sebastiana (Jackson do Pandeiro). Da Arca de Noé, Zé Renato pinçou, para alegria de crianças e adultos, O Ar, A Casa e O Pato. O músico ainda visitou o repertório de Chico Buarque duas vezes, relendo História de uma Gata (do musical Os Santimbancos) e Ciranda da Bailarina (gravada por Adriana "Partimpim" Calcanhoto), e ainda de Gilberto Gil, com a infalível Sítio do Pica-Pau Amarelo.

Com bom humor, repertório certeiro e músicos de primeira linha o acompanhando, Zé Renato aqueceu a sexta-feira fria e a chuva do Rio de Janeiro. Muitos adultos que foram ao Teatro Rival para animar seus filhos talvez tenham se divertido tanto ou mais que eles. Falo por experiência própria...

Hoje tem mais uma apresentação de Zé Renato no Teatro Rival. Para quem puder ir, é uma ótima dica - só não esqueça o guarda-chuva. Confira abaixo o serviço do show:

Teatro Rival Petrobras
Data: 13/10, sábado, às 18h
End.: Rua Álvaro Alvim, 33/37 - Cinelândia
Preços:
Setor A / Setor B / Mezanino:
- R$ 50 (Inteira)
- R$ 25 (Meia entrada para estudantes, idosos e professores da rede municipal).
- R$ 20 (Crianças de 03 a 10 anos)

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Marcos Goes ganha novo site, agora “.com”

Print screen da home page do site
Está no ar o novo site do Ministério Marcos Goes, desenvolvido por mim, com a preciosa colaboração do amigo Bruno Barros. Foram seis meses de trabalho, aproxidamente, até a estreia, em março. As páginas reúnem biografia, discografia, galerias de fotos e vídeos, downloads e outros itens sobre o cantor, compositor e pastor Marcos Goes, que é autor de verdadeiros clássicos da música gospel, como as músicas “Autoridade e poder” e “Bem querer”, e de álbuns emblemáticos, a exemplo da série “As Vigílias”. Também foi trocado o domínio – o endereço www.marcosgoes.art.br deu lugar a www.marcosgoes.com.

Print screen da vitrine da Loja Marcos Goes
Ainda estou fazendo ajustes para que o site funcione corretamente em diferentes versões do Internet Explorer. Mas quem usa o Mozilla Firefox, o Google Chrome ou o Opera já pode vê-lo exatamente como foi concebido. Aliás, se você usa o IE, sugiro que mude para um dos três navegadores supracitados, que são muito melhores. Basta clicar nos nomes para baixá-los.

A ideia principal do site, demandada pelo cliente, era que todo o conteúdo fosse exibido de modo a não haver barra de rolagem vertical (muito menos horizontal!). Se fosse necessário utilizá-la, que o scroll ficasse dentro do site, e não no navegador.

Para isso, mesclamos HTML/CSS (já com muitos recursos do CSS3, como bordas arredondas), JavaScript/jQuery e PHP. Flash somente na abertura.

Tanto no filme de abertura quanto no background do site, a proposta foi apresentar diferentes fases de Marcos Goes, que já tem quase 30 anos de carreira (ou ministério, como ele prefere chamar) e 40 álbuns lançados, entre discos de estúdio, ao vivo, coletâneas e playbacks. O background ocupa o tamanho máximo de 1920 x 1080 pixels. Portanto, quanto maior a resolução de tela do usuário, mas ele verá a imagem de fundo, que traz fotos de Marcos Goes em épocas distintas.

Print screen do informativo de 29/06/2012
Com a nova identidade visual e o novo domínio, mudou também o layout do informativo (ou newsletter) que mandamos de uma a três vezes ao mês para a base de usuários cadastrados no site. O mais recente foi enviado hoje (29/06). Acho que é o mais bonito que já produzimos em nossas campanhas de e-mail marketing. Clique aqui para visualizá-lo.

Vale lembrar que eu também desenvolvi – novamente com uma ajuda preciosa, desta vez da empresa de hospedagem Hostnet – a Loja Marcos Goes, toda feita na plataforma Magento. Foi um trabalho árduo e solitário, que ocupou boa parte do meu tempo – incluindo fins de semana, feriados e muitas madrugadas em claro – durante um ano e meio.

A loja estreou em 2011. Estão à venda cerca de 20 CDs e mais de 100 músicas em MP3, para download.

Em breve surgirão mais novidades sobre o Ministério Marcos Goes, que serão postadas aqui. Enquanto isso, visitem o site, a loja e o informativo e comentem!

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Álvaro Tito: um músico completo no auge da forma

Álvaro Tito - Reinas em glóriaCRÍTICA DE CD
● Disco: Reinas em glória
● Artista: Álvaro Tito
● Gravadora: Sony Music

Álvaro Tito - Reinas em glórias






Há cerca de duas semanas, fui à loja El Shaday do Norte Shopping, no Rio, prestigiar o amigo Elvis Tavares na noite de autógrafos do livro Álvaro Tito - Uma biografia sem barreiras (Editora Ágape), do qual falei recentemente, em outro post. Lá, para minha surpresa, tive a oportunidade de reencontrar o biografado, que muito simpaticamente me presenteou com seu mais recente CD, Reinas em glória (Sony Music).

Pode parecer tarde para comentar o álbum, que foi lançado em 2011. Mas, quando o assunto é Álvaro Tito, eu pareço mesmo estar sempre atrasado. A última vez em que nos encontramos foi numa festa de fim de ano da gravadora Line Records, em Nova Iguaçu, em 2004. Na época, eu já estava devendo ao Álvaro, há mais de um ano, a entrega do troféu de Melhor Disco Gospel de 2003, pelo CD Levante-te, numa seleção que fiz para o Universo Musical, envolvendo artistas, álbuns e shows de diferentes estilos, como era de praxe no site. Não pude levar o troféu para aquele evento, e até hoje Álvaro Tito está num "seleto" grupo dos poucos a quem não premiei pessoalmente. Além dele, só a banda Jota Quest e o cantor Alex Cohen não receberam o troféu, que foi entregue a Rita Lee, irmãos Caymmi, Dudu Nobre, Zeca Pagodinho, Ivete Sangalo, J. Neto, Kleber Lucas e outros grandes nomes da música brasileira, popular e evangélica.

A primeira impressão que tive ao ouvir Reinas em glória, ainda na loja do Norte Shopping, foi a mesma da época em que escutei Levante-te. Algo como "esse cara realmente gosta de Stevie Wonder". Em Reinas em glória, a influência é explícita, por exemplo, nos funks Deus é nosso refúgio e Sete castiçais de ouro (ambas de Álvaro Tito).

Mas, assim como há 11 anos, uma audição detalhada revela muito mais. Álvaro Tito é um cantor com a rara habilidade de conjugar técnica perfeita e emoção à flor da pele. Suas interpretações são tão viscerais que ele, mesmo sem ter escrito ou musicado uma canção, poderia ser considerado coautor da obra. Certamente, vários de seus compositores - se não todos - surpreendem-se depois de lhe entregar suas obras cruas e ver o que elas se tornaram. Com a mesma convicção, é possível afirmar que muitas músicas que gravou só se mostram tão grandiosas graças à sua habilidade não só como cantor, mas também como produtor e arranjador. Afinal, como aprendemos na biografia escrita por Elvis Tavares, o multi-instrumentista Álvaro Tito produz e arranja todos os seus álbuns.

Para traduzir essas palavras em música, vale citar a faixa Minha provação, do consagrado compositor Edison Coelho. Talvez seja a canção de Reinas em glória que melhor ilustre os talentos múltiplos de Álvaro Tito. A letra tem uma temática bem simples - "há no mundo tanta gente chorando mais, sofrendo mais que você". Mas a solução que Álvaro criou para os arranjos, fazendo com que a canção cresça ao longo da execução, embalada por um coral de arrepiar, até o final arrebatador, é para aplaudir de pé.

Ideia semelhante é apresentada, de modo mais simples, em A sala do banquete, do próprio Álvaro Tito. É outra canção em que o coral - no melhor estilo da gospel music das igrejas americanas, com palmas e tudo - faz grande diferença.

Mas no somatório de letra, voz e instrumental, o grande destaque do CD é a música de abertura, Somente pela graça, na qual o texto inspirado de Elvis Tavares (mesmo autor de Não há barreiras, maior sucesso de Álvaro Tito) é emoldurado por um lindo arranjo orquestral, numa bem dosada mistura dos teclados de Fábio Santa Cruz e das cordas de Aysllany Edifrance, Gabriel Gonçalves, Wanderson Cesar (violinos) e Mateus Rangel (violoncelo).

Multifacetado, Álvaro Tito vai do funk-groove-suingado Carregado piano (autoral) à balada romântica Aconteceu (Daniel Gomes), com a participação precisa do sax de Abdiel Arsênio, que também brilha na balada pop Deposito toda minha fé. No meio do caminho, passa pela jazzística Esse nome tem poder (Álvaro Tito), em que é acompanhado pela formação baixo (Dudu Bernardo), bateria (Rodrigo Ribeiro), violão (Pablo Chies) e teclados (Fábio Santa Cruz).

Subindo e descendo tons como se fossem degraus, Álvaro Tito brinca com a voz, em seus conhecidos melismas, em três músicas compostas por parentes - Reinas em glória, do primo Manoel S. O. Filho; As promessas de Deus, bela letra de Jorge Severiano, pai do cantor; e Na beira da estrada, de sua mãe, Olindina Ramos. Vale ressaltar que o coral tem a participação da irmã de Álvaro, Elvira.

Completam o repertório de 14 faixas as músicas Guarda o que tens e O vale de Jaboque, mais dois exemplos do domínio que Álvaro Tito tem de sua voz e da produção que o cerca. É um músico completo, no auge de sua forma.

Cada vez que ouço Reinas em glória, gosto mais do disco. Se eu tivesse feito a escolha dos melhores de 2011, a essa altura, provavelmente, estaria devendo dois troféus a Álvaro Tito.

Eu entre Elvis Tavares e Álvaro Tito no Norte Shopping

sábado, 9 de junho de 2012

Biografia de Álvaro Tito é uma história de amizade

Depois de um longo e nem tão tenebroso assim inverno, retomo as postagens aqui no blog com a felicidade de tecer alguns comentários sobre o livro Álvaro Tito – Uma biografia sem barreiras. A obra marca a estreia literária do meu amigo Elvis Tavares, prolífico compositor, com diversos sucessos emplacados no cenário da música gospel.

Só para citar alguns, são de Elvis Tavares, com ou sem parceiros, os hits Coração de carne (gravado por Wanderley Cardoso), O velho homem (J. Neto), O jovem rico (Novo Som), Os portais (Vitorino Silva) e Fogo Santo (Lea Mendonça). Mas sua composição mais famosa, sem dúvida, é Não há barreiras, canção que, como se lê no livro, representou muito mais que o maior sucesso na voz de Álvaro Tito – foi um verdadeiro divisor de águas da música gospel brasileira, assim como outras faixas daquele LP, também intitulado Não há barreiras, lançado em 1986, pela multinacional Polygram (atual Universal Music).

Apesar de trazer a palavra “biografia” no nome, o livro de Elvis Tavares é, na verdade, a história de uma grande amizade entre biógrafo e biografado, bem como o testemunho da admiração – musical, sobretudo – que o autor nutre por Álvaro Tito. E não é para menos: ao longo das 271 páginas, o leitor descobre que Tito, como era chamado na infância, é multi-instrumentista (saxofone, violão, guitarra, bateria e percussão são alguns dos instrumentos citados); que “peitou” os dirigentes da supracitada Polygram para ele mesmo produzir e arranjar o LP Não há barreiras, isso com apenas 21 anos; que na juventude, enquanto o sonho de qualquer artista era ingressar numa grande gravadora e ser indie não estava em voga, Álvaro já pensava em seguir carreira independente (pode até ser considerado um dos pioneiros dessa iniciativa, hoje tão em moda, com a falência das grandes gravadoras por causa da pirataria), que é considerado o precursor da black music gospel nacional, entre outros inúmeros feitos.

Também conferem mais riqueza ao trabalho os depoimentos de grandes artistas evangélicos admiradores de Álvaro Tito – Marco Aurélio, Martin Lutero, Silvera e Alex Gonzaga. Martin Lutero revela que, nos anos 80, nutria uma rivalidade musical com Álvaro Tito, bem no estilo Wanderley Cardoso x Jerry Adriani. Outra novidade, ao menos para mim, é uma parceria do biografado com Chrigor, ex-vocalista do Exaltasamba, quando ele deixou o grupo e iniciou carreira solo.

Aliás, as referências à música popular são inúmeras. Elvis Presley, Al Jarreau, Earth Wind and Fire, Roberto e Erasmo Carlos, Tim Maia, Stevie Wonder (maior influência musical de Álvaro Tito), João Gilberto e Tom Jobim são alguns artistas citados. Todos aparecem na história do livro (e de Álvaro) contextualizando uma determinada época, uma música gravada, uma situação ocorrida. E vale destacar, tudo sempre com citações bíblicas. É nítida a preocupação do biógrafo de não chocar os evangélicos mais tradicionais.

Em vários momentos do livro, por sinal, Elvis Tavares pega uma trilha paralela à de Álvaro Tito e cita alguns dos pioneiros da música gospel, como Vitorino Silva, Feliciano Amaral, Ozeias de Paula e Edison Coelho. Nomes a quem Aline Barros, Regis Danese, Ana Paula Valadão e outros que já extrapolaram os limites do meio evangélicos devem um “muito obrigado” por terem iniciado o que é hoje o mercado gospel brasileiro, com músicas executadas em horário nobre na Rede Globo e discos à venda em supermercados e megastores virtuais.

Outros momentos marcantes da música gospel também são citados, como o boom de gravadoras evangélicas nos anos 80 e 90 – muitas delas já extintas, a exemplo de Nancel Produções e Som e Louvores – e a criação, por Marina de Oliveira, da MK Music (na época MK Publicitá), hoje, sem dúvida, a maior produtora fonográfica do meio gospel.

Por tudo isso, pode-se dizer, sem medo de errar, que Álvaro Tito – Uma biografia sem barreiras é também um livro sobre a história da moderna música gospel brasileira. Um tema, muito provavelmente, que Elvis Tavares – profundo conhecedor do assunto, como denotam seus artigos no site da editora Efrata Music – irá explorar mais a fundo em obras futuras.

Bom, depois de chegar à segunda página do Word, percebo que aquilo que era para ser apenas um preâmbulo do release que escrevi sobre o livro acabou se tornando um novo texto! Se você, que chegou até aqui, quiser ler mais sobre a publicação, clique aqui e baixe o release. Lá existem várias outras nuances do livro que não explorei aqui no blog.

Por fim, deixo meus parabéns ao amigo Elvis Tavares e digo que estou muito feliz por ter participado de uma forma ou de outra de sua bem-sucedida empreitada, seja diretamente, ao ser citado no livro, junto com matérias que escrevi para meu site Universo Musical, seja indiretamente, por meio de minha contribuição ao site da Efrata Music, criado e administrado por mim. Espero que, como falei acima, esta seja a primeira de muitas produções literárias sobre a música gospel brasileira, carente desse tipo de registro.