sábado, 9 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2: um soco no estômago com luvas de boxe

Ainda estou assimilando o soco no estômago que levei há pouco, quando acabou a sessão das 21h30 (lotada, como todas da estreia do cinema aonde fui) de Tropa de Elite 2. Eu e algumas pessoas ensaiamos aplausos ao final, mas o silêncio traduzia melhor a perplexidade de todos diante da grande verdade do filme, do Rio e do Brasil: o sistema é muito forte, quase invencível, e somos nós que o sustentamos. Talvez muita gente tenha consciência dessa verdade, mas ninguém até hoje, pelo menos que eu saiba, teve coragem de jogá-la no ventilador tão publicamente, sem poupar quem quer que seja. Nem é preciso dar nome aos bois para fazer o paralelo da ficção com a vida real.

Como filme de ação, achei que o original superou a sequência, até mesmo porque tinha o fator novidade. Mas a mensagem de TE2 é mais profunda, entra nas nossas tripas, dá um nó, fecha e joga a chave fora. O novo Tropa aproxima-se ainda mais da realidade porque derruba as próprias dicotomias que estabeleceu, no filme anterior, entre polícia e bandido, PM e Bope, honesto e corrupto, ampliando o leque da discussão. O traficante, o viciado e o policial desonesto continuam sendo culpados, mas há algo muito maior por trás deles, o tal sistema, diante do qual, em tempos de eleição, eu faço a pergunta: será que adianta somente mudar as peças do xadrez se o problema está no tabuleiro?

Por outro lado, acho que os responsáveis pelo filme, ao mesmo tempo em que criticam o sistema, ajudam a reforçá-lo, exibindo TE2 depois do 1º turno das eleições. Até entendo que existam motivos e interesses para isso, e não acho que a data de exibição influenciaria em alguma coisa, mas não deixa de ser uma pena. Pela reação da plateia, não foi só em mim que o filme causou a sensação de ter levado um soco no estômago com luvas de boxe. Multiplique isso por mais de 600 salas de exibição Brasil afora, "n" sessões e as versões piratas, via DVD e internet, que vão pipocar a partir de hoje, e tem-se como resultado algumas milhares de pessoas que, se não lutarão contra o sistema, pelo menos refletirão um pouco mais sobre suas vidas.

Ao final da sessão, saí do cinema duplamente feliz, por ter visto um filme excepcional e por votar nulo.

Um comentário:

Bruno Barros disse...

aew Bin, agora fiquei com mais vontade de assistir ao filme. Só fico com receio de levar minha esposa por ser muito violento. :(
Sucesso com o blog!